Sinceramente, nem sei o porquê de eu
querer escrever ainda...Não sinto que transmitir meus pensamentos para uma mera
folha de papel irá me ajudar, bom, pelo menos, nunca ajudou até agora, porém,
sei que se eu não escrever vou continuar com algum tipo de peso em meus ombros,
como se além das outras coisas que carrego, isso influenciasse mais e mais ao
passar do tempo. Então acho que foi por isso, que resolvi escrever. Só
que...Não faço ideia sobre o que escrever.
Tantas coisas complexas nesse mundo. Eu continuo a colocar a
ponta da caneta no papel, porém desisto depois de escrever por não me parecer a
coisa certa, só que eu lembro depois, que não exatamente algo certo para se
escrever, afinal, posso escrever sobre o que eu quero, certo? Então por que
existe esse pressentimento dentro de mim que diz que eu preciso escrever algo
importante, porém eu mesmo não sei sobre o que devo escrever. Isso é tão
confuso! Por que isso não pode ser tão simples como uma chuva? Gotas d'água que
caem uma atrás da outra e acertam o chão sem medo de se machucarem. Algumas
rápidas e outras nem tanto. Elas batem e batem de novo no vidro de meu quarto
fazendo baixos sons que vão se repetindo ao passar do tempo em que continua
chovendo. Todas as gotas caem sozinhas porém, depois se juntam, que engraçado
isso, não? Pelo menos para mim, é. Talvez elas remetam à nossa vida, que tal?
Elas nascem sozinhas, mesmo com milhares iguais a elas ao seu lado, porém no
final, acabam do mesmo jeito.
Se eu consigo pensar em tudo isso em apenas alguns momentos, por
que não posso simplesmente saber o que devo escrever? Pode ser que eu não tenha
que escrever nada, porém se fosse assim, não estaria pensando que devo. Mas que
raios é isso que me pressiona tanto? Não vou escrever para ninguém, mas sinto
como se devesse escrever algo incrível para que admirassem! Que saco! Acho que
mesmo que tivesse todo o tempo do mundo para descobrir o que devo escrever,
ainda sim, não conseguiria! Essa necessidade de algo e que eu realmente não
faço a menor ideia do que seja, é mais do que estranha...Eu nunca senti isso,
então por que agora? Por que nesse momento? Por que sozinho e por que aqui? Não
que seja o pior dos momentos mas, que é um dos mais estranhos para se
acontecer, com certeza é.
Já está tarde e eu ainda preciso dormir, só que não sei se irei
conseguir...A visão dessa pequena janela ao meu lado está tão bonita, sei que
mesmo que eu fechasse meu caderno agora, não iria dormir, iria apenas ficar
olhando para essa chuva que não para de cair enquanto pensaria em várias coisas
sem nenhuma ligação entre elas. Será que todos são assim ou será que eu sou um
em particular? Bom, qualquer dia desses tenho que descobrir e embora ainda não
tenha descoberto o que eu acho que devo escrever, eu tenho que ir, afinal,
sabia desde o começo que não iria descobrir hoje mesmo.
Então é isso...Tchau, ou sei lá, não sei como deveria acabar
isso, talvez só com um simples ponto final, mas será que isso seria pouco? Acho
que vou deixar essa questão no ar, vou apenas largar a caneta e acabar com isso
por hoje.
Se ouve então, o
barulho do que deveria ser uma caneta caindo em cima de folhas marcadas por
tinta e letras e então, logo após isso aquele pequeno caderno se fechou
lentamente junto com as mãos de Noah. O silêncio que se estabeleceu foi
quebrado por um longo suspiro dado pelo homem e seus olhos se fecharam quase ao
mesmo instante, parecia frustrado e aliviado ao mesmo tempo. Como pode isso,
não é? Duas sensações praticamente opostas sendo demonstradas claramente com um
único e pequeno gesto, mas isso realmente não importava agora. Enquanto ele se
levantava, a chuva que dava movimento aquela noite se intensificava. Com um
pequeno pulo, o escritor já estava em sua cama, deitado de um jeito estranho
porém confortável, seus olhos se fecharam.
Depois de alguns segundos podia se ver que a respiração dele
havia diminuído e se acalmado, ele estava tranquilo e não apenas isso, estava
já sonhando, seus pensamentos mais aleatórios pareciam fazer sentido agora e
então, ele podia descansar, finalmente.